Eu me permito sentir as coisas
como eu quero. Crio cores e tons de cores, dores e tons de dores. As vezes,
tardes chuvosas causam isso em mim. Reatam uma certa nostalgia inexplicada,
algo que entra e fica sem eu nem mesmo perceber.
Eu gosto.
Permito até certo ponto que tudo
fique como está. Acho que assim as coisas ficam mais leves.
Aí, em dados momentos, eu percebo
que isso é uma espécie de realidade paralela que eu crio para me isolar de mim
mesmo. Moro num espaço à parte dentro de mim, e ali, me encontro no meu melhor.
Eu me permito as vezes ser eu
mesmo, pra não perder a identidade que eu sou. E acredite, eu gosto de mim.
A chuva fina após uma tarde
quente, o cheiro de chão molhado, o vento meio vapor meio brisa, tem uma
característica única. O som das gotas caindo, são uma melodia incapaz de se
escrever. São como codificadas sinfonias escritas em uma partitura secreta,
para ouvidos selecionados.
Eu sei ouvir a chuva. Em sua
magestosa tempestade, em sua singela garoa.
E ela se me aparece como sendo de
fato uma sinfonia, onde em momentos exatos os trovões, e o vento, e a luz
falhando nas lâmpadas nunca notadas. Tudo isso são elementos da minha aflição
educada e disfarçada. Eu percebo e valorizo tudo isso, agora e sempre foi
assim.
Doando materiais para contrução
de um lugar íntimo e secreto que eu tenho e guardo em mim.
Eu me permito sentir as coisas como
eu quero, e tenho necessidade de mim.
A chave para esse lugar são os
meus sentidos. Quando quero me transpor, simplesmente me ligo a eles. E vivo
cada toque, cada passo, cada som, cada imagem, cada pensamento, que quando são
alinhados, me colocam no meu lugar íntimo.
Na maioria das vezes uma boa
música me transporta involuntariamente. E como é bom ser surpreendido com tal
viajem. É como as vezes que se pega um
livro, e dele cai uma foto, uma anotação e que você viaja imediatamente ao
lugar, à pessoa, ou ao assunto em questão e num breve momento você volta.
Para esse ‘’flash’’ de viajem, eu
não tenho um nome, nem sei definir, mas sei que é mais real que eu possa
imaginar. Acontece as vezes com cheiros também...
Por isso eu me permito sentir as
coisas como eu quero. Para sempre ter um refúgio comigo, onde eu estiver. E aos
que nunca entenderão, eu tenho pena, como para aqueles que achavam
verdadeiramente que a Terra era plana, limitando-a sem imaginar as grandezas e
as suas maravilhas.
By Pablo Bento